31.3.09

881

como é pouco viver
fato que não se apaga da mente
mesquinho apequenado
que se alastra
torna-se dono de nós
impõe-se à nossa vontade
como as drogas
o prazer de viver não paga o sacrifício
no entanto é buscado com tamanha gana
parece doença
que não mata
obriga à vida à existência
cega
deixa-nos com a visão de maravilhas
e com vivências do mais profundo dos infernos
as humilhações
que sofremos e que infligimos
esta coisa de não saber e não poder e mesmo assim fazer
por pura ignorância
por pura inépcia
tropeços tombos mutilações
e ainda vem o bocó ganancioso com a conversa de que somos benquistos
é demais
mas ainda assim engulo

30.3.09

880

viver é sepultar
dias lembranças pessoas alegrias sentimentos esperanças tristezas
é o que se faz depois de nascer
se o próprio nascimento não for o sepultamento de alguma coisa
talvez da liberdade ou da possibilidade de ser feliz
somos coveiros por natureza
o que nos faz ter horror de nós
pois o modo como nos vemos não casa com este lado de verme decompositor que em todos habita
que em todos nós é
os de nós que mais conseguem se afastar dessa imagem são os mais bem sucedidos
os que melhor passam a ilusão de sermos seres sublimes seres que transcenderam os ditames da cadeia alimentar e que vivem no éter das idéias puras
mas que no geral três vezes por dia enchem a pança de comida
e pelo menos uma vez por dia despejam um cagalhão

29.3.09

879

não sei o que dizer
isso significa que tudo está normal
minha loucura não subiu nem desceu
meus ódios permanecem os mesmos
sinto-me estupefato como sempre
desejo vinganças inconfessáveis
desejo sair de todos lugares e não entrar em mais nenhum
fico sem palavra
pois no fim das contas que vale falar
vivo aqui dentro de mim com estes sentimentos tortuosos
para que falar
não sei amar nem ser amado
não vejo também por que gostar de mais alguém
melhor gostar de mais algo
coisas são muito mais confiáveis que seres

28.3.09

878

pudesse eu viver longe deste mundo
sem necessidade de sabores amores cores flores e horrores
longe de tudo
sem presença alguma
houvesse um fim para tudo isto
deixasse eu de amar e odiar de ser e de não ser de querer e de não querer
meu saco não agüenta mais estas dualidades de merda
principalmente porque elas são mentiras
se há felicidade e tristeza então a vida é triste
se há riqueza e pobreza isso me faz sentir-me pobre
não há graça em viver governado por dois princípios quando um deles é o mal
não dá para ser feliz com o bem quando o bem se alterna com o mal
quero o fim de tudo isto
quero inexistir para nunca mais existir em lugar algum
de modo algum

27.3.09

877

a dificuldade de viver talvez não aumente nem diminua
talvez ela apenas mude de lugar de aspecto
mutatis mutandis
a vida sempre difícil
sempre revela umas soluções e oculta outras
como luz intermitente
ora dizendo verdades
ora mentiras
apenas para me encher de certeza
de que nada sei
certezas que doem
que diminuem
de que valem
não quero viver traçando estratégias para enganar a morte
não quero viver em permanente estado de prevenção
quero silêncio
e ausência
e um imobilismo tão grande que mesmo que tudo no mundo se mova
ele não se abale
mesmo que não durma
eu sonhe
mesmo que eu não sonhe
que eu seja parte do sonho

26.3.09

876

gostaria de saber se há como aprender a viver sem dormir
a bem dizer aprender não é o que quero
quero é saber viver sem dormir
aprender é uma merda sem par
bom mesmo é saber
ser capaz
dormir é tão bom
sumir daqui
dormir para sempre
este sonho recorrente
mas acordar é muito doloroso
melhor não dormir nunca
ou morrer de uma vez
esta alternância é um puta saco
ela pode ocorrer entre claro e escuro preto e branco salgado e doce alto e baixo
não vem ao caso
sempre um bom e outro mau
ou um bom e outro menos bom
as coisas mudam à minha revelia
viver é assim há quarenta e seis anos e uns quebrados
não sou quem me conduz

25.3.09

875

na mesa do almoço tudo que ele queria era silêncio
sua face assumia uma expressão soturna a voz ficava pesarosa e ressentida
e ele dizia que melhor faria se tivesse almoçado no serviço
então fazia-se silêncio
eu calava
para não dizer que realmente seria muito melhor se ele tivesse almoçado no serviço
ele lá a se lastimar de seu destino injusto
sempre dando a entender que seus filhos eram das principais causas de sua infelicidade
como era horrível viver com aquela vítima de tudo
há coisas que não deixam saudade
exceto saudade de um futuro
esperança de se ver longe daquilo
como me arrependo de ter vivido
de ter me sujeitado a tudo isso
de não ter me matado ou fugido
de não ter buscado uma saída qualquer
fui conivente

24.3.09

874

esse furor educacional
que saco
para tudo há uma merda duma escola
e o patrão quer que o empregado sem prejuízo das horas trabalhadas faça graduações pós-graduações especializações
e tome monografia e tome viver entre quatro paredes ouvindo um dois três quatro ou mais idiotas por uma duas três quatro ou mais horas
meu deus isto não tem fim nem pé nem cabeça
é a tal da escola sempre a me perseguir
como eu gostaria de me trancar em casa e nunca mais ter que falar com ninguém mais no mundo
especialmente com professores
mas isto não acaba
ninguém nunca tem conhecimento bastante
a ignorância
isto nunca acaba
e alguém sempre se locupleta

23.3.09

873

não sei por que ter o trabalho de trazer mais monstros ao mundo
parece ser a coisa mais linda que podemos fazer
encher o planeta de nós
acho que o mundo não precisa de mais monstros
mas não passo de nada
quando o rolo compressor do destino estiver para passar sobre mim
como todos me acovardarei
suplicarei inventarei deuses
serei capaz de qualquer torpeza para me ver a salvo
não sei para que mais um de mim no mundo
o homem só será bom quando deixar de existir

22.3.09

872

domingo
dia da família
que saco
juntam-se todos para ficar sem espaço
crianças e adultos aos montes
unidos por falta de alternativa
sono
vez por outra uma baixaria
família
a salvação do mundo
pobre mundo
domingo
se há inferno
no inferno todo
dia será domingo
em família

21.3.09

871

não sei se quero encontrar mais motivos para viver
busco-os é certo
simplesmente por vício
tanto me disseram que viver era bom
que mesmo quando a vida me parece uma merda sem solução
busco em desespero mais vida
será que a existência transcende o corpo
e se converte numa eterna prisão
como dizem as religiões
a escravidão eterna
a bondade coagida
o dever de mentir até para mim
se algum dia eu sinto menos ódio ou mais amor
escrevo palavras menos amargas
a emoção é uma ciência exata que não domino
mas se a tal da história de ser superior é real
o tal ser superior manipula-nos por conhecer o segredo
o pulo do gato da vida é este
não deixar que os outros conheçam nossos segredos
então deus e diabo seriam insuperáveis donos da bola e só

20.3.09

870

vida comum
a beleza da vida comum
deve ser isto que vejo agora
sinceramente não sei o que é
aceitemos
quem não vive a vida até o fim foge
e parece que isso é muito terrível
porque deus não gosta
e se alguém resolve atalhar o fim
deus fica muito decepcionado
ou é o tal do carma
sei lá
só sei que ninguém pode cagar fora do penico
pois senão meu deus tu tá fudido
a felicidade tá em qualquer lugar porque num tá em lugar nenhum
tanto faz
contanto que não se a encontre
o que não é difícil
é um joguinho
pode chamá-lo de imbecil
faça o que quiser
é um jogo de que não escolhemos sair
em que não escolhemos entrar
em que não jogamos
somos jogados
não me venham falar de deveres

19.3.09

869

dizer que escolhemos a vida
como se a cada mínimo momento
em cada mínimo dilema
tivéssemos noção do alcance de nosso ato
dizem que a vida é feita de escolhas
mais adequado talvez fosse dizer
que a vida é algo em grande medida como uma loteria nunca ganha
uma isca
uma prova de resistência
apenas se adia o fim
toda aposta é uma aposta perdida
mas sair do jogo é uma fuga um ato de covardia
ó deus que horror
bonito é ficar aqui
esperando
não importa sob que condições
esperando esperando
esperando tanto que se chega a crer que a vida não tem fim
esperando com fome
esperando sozinho
esperando doente
que importa
o que vale é esperar
pois assim deus nos ama
e após ter feito o que quiser de nós
nos encherá de vermes

18.3.09

868

qualquer um que venha a ler estas porcarias que escrevo dirá tratar-se de poesia
má poesia
o que quer que isto seja é mau
e não é poesia
são só textículos em que tudo que quero usar são letras minúsculas somente e mudanças de linha para marcar as pausas
pausas lógicas
não respiratórias
só quis criar um modo de escrever apenas para mim sem me preocupar com as malditas regras gramaticais
essa a desculpa que me dei
conversa
sempre por trás das palavras havia a tal da vaidade
uma gana oca de reconhecimento
que todos temos
ou tantos de nós
muitos mesmo
que sabem ou pressentem que dentro de si há um universo tão grande quanto este em que vivemos aqui fora
mas um universo pode ser grande
sem deixar de ser desinteressante
cê la ví

17.3.09

867

para onde vai a pressa
lugar algum ou algum lugar
a pressa não tem pressa
ela se instala na gente como parasita
ávida e metódica
enche-nos de si sem a si sucumbir
é daquelas coisas que sempre
sempre simplesmente
como uma espécie de ar
algo essencial ao equilíbrio moral e psíquico
como a inveja a hipocondria a hipocrisia e a pedofiflia sacerdotal
viver com os olhos saltando os cantos da boca a tremer o suor
o suor e pronto
o parasita se instala e depois
é como se não houvesse depois
parece que tudo vai acabar a todo momento
restando só um imenso escuro e a sensação de desespero e uma clara noção de feiúra
não sei bem de quê porque de tudo
pois tudo é pressa
tudo

16.3.09

866

há coisas na vida que não parecem relativas
que parece que como venham ou em quanto venham
sempre são no mínimo terríveis
mais ou menos
mas sempre terríveis
não há terror relativo
para o que se aterroriza
brincadeirinha séria
jogo de caça em que o dia é sempre do caçador
e no entanto da caça exige-se espírito esportivo
que não seja má perdedora
que na vida tudo é relativo
dirão os que não têm incolumidade relativa
os mesmos que dirão que a vida vale a pena de ser vivida
que saco
por que não existe algo mais profundo e mais eterno que o sono eterno
já que tudo é relativo

15.3.09

865

nem sempre despertar com o sol é uma
aliás creio que nunca
de fato
nem por isso
aqui não se deve sentir por ninguém
a bem dizer aqui quanto menos se sinta
melhor
porque não há muito que sentir
o que pode levar alguém a se sentir incapaz impotente impróprio
a sentir que não há nada além da maldita repudiada ensurdecedora vergonhosa indelével verdade
isto em minha mão
o tremor
ou o pedaço de alimento
ou a caneta ociosa
depende do momento
variam o começo e o meio
nunca o fim
há muita coisa sem sabor claro em meu dia
e muito dia sem sabor

14.3.09

864

o que oferecer em troca do fim disto
qual o preço da liberdade
se a liberdade é a inexistência
que seja
inexistir para tudo
até para mim
que seja
não restar nem um fiozinho sequer
desta consciência
que meu passado não seja mais meu
não desejar mais nenhum dos benefícios deste mundo
não me ver mais sujeito a nenhum de seus malefícios
não ter mais nada
nem mesmo um ser
quando ficarei livre disto
quando não serei mais um escravo
um semovente integrado ao patrimônio da deus e diabo sociedade anônima
acho muito provável que eu acabe me matando
na esperança de que acabando a vida do corpo acabe também a vida do espírito
sou impaciente
e não quero ficar velho
e vivo no escuro

13.3.09

863

viver não é importante
importante é ter e obter
e para isso ao que se saiba carece haver vida
mas viver por viver
grandes coisas
daqui a milênios tudo será poeira
o destino de tudo é ser passado
isto vai passar
talvez eu nem sinta saudade
talvez
mas agora
como me dói pensar nesse futuro
em que meu mundo será poeira
talvez eu pare de existir quando a vida deste corpo acabar
seria muito bom
por que permanecer quando tudo acaba
melhor que esta escravidão até a inexistência
viver não é nada
prazer meter ter obter comer beber e todas as coisas boas
isso sim faz a vida

12.3.09

862

claro que tenho medo
vivo aqui
sei que este lugar é apavorante
claro que me sinto posto de lado
quem não se sentiria
o mundo é para poucos
muito poucos
burros mesquinhos com cara de bunda
como a maioria de nós
mas diferentemente de nós
eles têm o mundo a seus pés
eles mandam
pouco importa se imbecis
pouco importa
a ralé não pode atingi-los
as comezinhas dores de viver não fazem parte de suas vidas
nelas não se necessita felicidade para ser feliz
tudo é diversão
até o sofrimento
viver a vida dos comuns
ser comum até a raiz da alma
duro sem voz exposto
com uma única obrigação
obedecer calado
vida vida e meia
quem sabe mais

11.3.09

861

nunca alcançar
o segredo é nunca alcançar
sempre que subo a montanha sobe comigo a própria montanha
não sei em quê
não sei como
mas a cada passo que dou
anda comigo meu próprio cenário
vai ver que arrasto comigo meu mundo
levo comigo meu patíbulo
nele me penduro toda noite para no dia seguinte recomeçar
com céu e inferno a tiracolo
e então me vem um imbecil
tão cego quanto eu ou ainda mais
falar-me de fé
cala a boca caralho

10.3.09

860

a ânsia não sei se só cresce
é o que sinto
ela cada vez mais dona de mim
ânsia não sei de quê
não sei ao certo
faço porém uma boa idéia
ânsia de viver mais um segundo de ser eterno de nunca sucumbir à infelicidade de nunca ver o lado oculto por dentro do lado oculto de nunca ter certos desejos
é sempre igual
tudo parece sempre igual
eu mudo como todo o resto
envelheço adoto novos pontos de vista desloco-me entre pontos no plano
parece que os fatos se desenrolam sempre em torno do mesmo núcleo
parece por isso que nunca saio do lugar
não sei se é engano
de tudo que pode me acontecer talvez o pior seja viver até amanhã não importa quão grande o infortúnio
de tudo que pode me acontecer o mais triste talvez seja continuar

9.3.09

859

fidelidade conjugal filhos patrimônio
inferno
sempre falta alguma coisa
quando não é amor é dinheiro
se não é dinheiro é saúde
se não é nada disso
é tudo ao mesmo tempo
o segredo é não ser feliz
e olhar para trás e dizer que vale a pena tanta merda
claro que não
mas o segredo reside aí mesmo
vender o que não se tem
eis o segredo
a delícia tão esperada é a decepção
pura inefável
como os maravilhosos cigarros por que eu babava na infância
nada afasta a verdade de que envelheço
cada dia mais velho e mais medroso
gostaria de não ficar decrépito e de ter uma morte indolor

8.3.09

858

animais em suas casinhas
respeitando horários sentidos de tráfego tudo
o sonho de todo dono
luzes que se apagam cedo na noite
gente fazendo tudo que deve fazer quando deve ser feito
garantindo a continuidade disto
somos pontes entre pontes
a individualidade é um acaso

7.3.09

857

felicidade mais filha da puta
sempre carece de um tantinho de tristeza
sempre intermitências
as coisas que parecem para sempre
são as que nunca desejei
criar coisas frágeis
que matam e são mortas
viver é uma compulsão
não existe outra maneira de ficar louco
não há forma diferente de viver
labirinto idiota
tão além de minha capacidade
não sou livre
mas sou escravo de casa-grande
meu fardo é pequeno
embora inerente
viver é uma coisa besta mas ainda assim é uma luta
contra o tédio
contra o medo
contra o inevitável
já estou numa idade em que devo ser mais passado que futuro
um passado de mais de quarenta anos cujos fatos cabem em segundos

6.3.09

856

tantos anos de vida
tanto que se fala
é a vida
viver é assim
fazer coisas sem saber por quê
falar sem saber o quê
viver
fato sobre fato sobre fato
como resultado
o amontoado
cada vez mais abstruso
se todos fôssemos seres
como o que foi literariamente parido pela biba irlandesa
veríamos em nossos retratos nossa labiríntica e entulhada mente
tudo no mundo
todas as coisas
parecem ser donas de mim
o mundo é bem maior que eu
minha insignificante grandeza
nem merece o nome de grandeza
nem merece nome
vivo do jeito que posso
meio longe do que quero
muito
na verdade
nada vejo

5.3.09

855

nunca me foi dado silêncio
mas algo me diz que ele existe
bem não faz muita diferença se não o tenho
se posso ganhá-lo e perdê-lo
de que vale ser se de nada se pode ser senhor
de que vale viver em meio a tanta mesquinhez
os enigmas se tornam cada vez mais inatingíveis
alguém brinca
não se trata de mim
conquanto se possa ser brinquedo e brincador ao mesmo tempo
viver sem diversão
sem sabor
um punhado de dor
e algo que dizem ser amor
estou aceitando
ainda não me matei
estou concordando
qualquer migalha basta
não vou me deixar morrer
mas a natureza
pequenas tragédias
a magia da vida
o veneno penetra
aos poucos
deus é sábio
ele sabe que o sofrimento deve ser bem dosado

4.3.09

854

que maravilha a coação
o que não se consegue por meio dela
o mundo
que beleza
a coação é a sábia mão invisível que conduz o homem em seu luminoso caminho de progresso à luz da razão
alguém já deve ter dito isso
decerto com melhores palavras
imbecil é o que não falta
para fazer qualquer imbecilidade
contanto que seja uma imbecilidade edificante
tão fácil ser imbecil
só assim se vive plenamente
uma vida com certificado oficial
algo de que não nos envergonhemos
não vivemos para nós nem para ninguém
vida
sei lá o que é isto

3.3.09

853

por que tanta coisa que simboliza a vida é chata
por que a alegria sadia é tão sem sabor
toda essa licitude
meu deus que saco
viver em conformidade com os ditames da classe dominante
simplesmente contribuir para esta paz ameaçadora
esta paz com violência subjacente
com muita violência subjacente
em qualquer fresta desta parede pacífica pode-se vê-la
muito certa
um banho de sangue
de ossos quebrados
de carnes rasgadas
mas há paz
e quem consegue se manter sobre a estreita linha
consegue viver
ainda que a título provisório
mas há paz
paz para quem pode pagar
paz para quem pode ter muros câmeras ocultas vigilância particular
paz para pensar em como permanecer dono da paz
quem não tem poder sobre a paz
vive como não pode
só quem pode pode

2.3.09

852

penso compulsivamente
a qualquer respeito
acho que depois de comer
pensar é o que mais faço
parece que me preocupo
todos pensam que também acho que algo está fora do lugar
sou eu
a coisa que mais anseio é ver-me fora daqui
não quero tornar nada bom aqui
a mim me basta ver-me livre disto
não mais existir
não mais viver sob o domínio da deus e diabo sociedade anônima
quem queira aqui ficar
permaneça este mundo como é ou não
nada disso me diz respeito
só quero encontrar a saída
e a entrada
e o lugar em que tudo seja cor-de-rosa cheio de mulher linda e doida para fazer qualquer coisa por mim
chega de desafios
eu sei ser infeliz sozinho

1.3.09

851

com prazo determinado diante de um enigma infinito
dádiva do céu
de parede em parede
trombo cego
tombo não tombo vão
sei que um dia
as coisas se formam assim
em mim
como cultura biológica
cresce onde haja ambiente e alimento
e assim um dia
nova idéia
que creio cheia de brilho
não se inche demais
digo-me assim
gosto de me olhar como se eu não fosse eu
quando me sinto prestes a naufragar
quando tudo vai explodir e nada vai sobrar
e esse nada serei eu
como nos sonhos
quando no meio da rua
descobrimo-nos sem calça
sem cabeça
sem boca
sem sexo
e ainda sendo
vendo compreendendo querendo
e nada