31.5.09

942

claro
como pude esquecer
a culpa é minha
se estou aqui
a culpa é minha
se sou como sou
a culpa é toda minha
o único que merece se fuder sou eu
o profundo tédio
minha culpa
a unha encravada
também podem pôr na minha conta
sou a fonte de todo mal
daqui só sai desgraça
isto nunca vai acabar
destininho besta
ficar aqui até morrer
coisa mais sem sal
este jeito disfarçado de vegetar
trabalho
quem disse que trabalho é algo que preste
certamente alguém que vive à custa do trabalho alheio
alguém que nunca precisou fazer força
vida besta
gostaria que tudo que ficou para trás fosse passado
mas muito é ainda presente
e futuro

30.5.09

941

como é a vida
coisa dura
porém não de matar
hoje somos seis sete bilhões de imbecis
dando cabeçada pra tudo que é lado
nada que chegue a matar
arrumamos todos um modo de tolerar a tonteira
uns com muito conforto
outros com muita desgraça
sempre que podemos cagamos regras para os semelhantes
nunca é demais fazer a vida um pouco pior
perpetuar o ambiente de ceifa
de pura dor
e mentir para os que nascem
convencê-los de que esta bosta é uma beleza
e pomo-nos a admirar a barata
capaz de se manter por trilhões de séculos neste bagulho de lugar
se existe mesmo uma inteligência por trás disto tudo
eu diria que ela está muito mais para uma estupidez

29.5.09

940

estando aqui na terra aproveite para viver um pouco
porque também viver muito é querer demais
a não ser que por viver muito se entenda viver infinitos anos desfazendo-se em infinitos pedaços entupindo-se com infinitos remédios
consumindo-se em infinitos medos
até vir a irrevogável demência senil
pois a não ser pelo aspecto estritamente quantitativo
de aqui permanecer anos e anos
apodrecendo
não há outra concepção do muito viver
um muito viver com sentido de vivenciar emoções prazeres deleites infinitos
viver dez anos a mil
a decrepitude
salvo sob o aspecto cronológico
é só um nada de vida
eu não vivi muito
até hoje tudo que vivi cabe numa cabeça de alfinete
o que não me impede de envelhecer

28.5.09

939

tanta coisa confusa
tanto caminho confuso
sou um corpo estranho neste organismo
e este destino o anticorpo que me corresponde
querem me ver fora daqui
só pode
ou então isto aqui é simples e tão-somente chato mesmo
uma coisa que tem fim
uma coisa que tem começo
mas que enquanto dura é eterna
eterna até não mais poder
uma coisa que acaba
e que não esquecemos
que vive inacabada em nós
todo dia todo dia todo dia
tudo tudo morre diante da
grande parede
sempre ela
eternamente
morre-se neste mundo
morre-se sem resposta
sem prazer
morre-se
é de praxe
pra isso que serve nascer

27.5.09

938

não dava pra ser outro mundo
nem outra hora
aqui
com esta cara
não sei se espero
se quero
se desespero
melhor não discutir o que nunca foi e nunca poderá ser
no fim talvez
haja alguma luz
quem sabe o que descobrirei
provavelmente nada que valha o sacrifício
mais uma dessas bobagens que nos fazem tremer
pois trememos por qualquer coisa
e depois de tremer muito
continuaremos os mesmos
e diremos que aquela experiência que nos fez tremer tanto
modificou-nos para sempre
parece que sabemos
só parece
a única coisa que muda em nós são as rugas
até que um dia
ou uma noite

26.5.09

937

caio e levanto
ando um tanto
ando um pouco mais
o mesmo seria se eu permanecesse parado
não há por que se preocupar
o que nos espera é a velha vala
e lá no inferno estará deus com suas infinitas bênçãos
que nada dizem
então digo a deus
vá tomar lá
não sei como tudo continua
quando parece que vai desabar
quando torço para que desabe
tudo permanece
e deus o eterno bundão
grudado na parede
e ali tudo me parece sujo
porque lá está deus
o bom deus
que saco
não sei se é o caso
mas será que ninguém nunca pensou em mandar deus passear
tudo desemboca no mesmo mar
os escravos de deus
nós
a velha lama

25.5.09

936

engolir veneno e cair convulso
talvez
porque tudo vai acabar
porra quanto drama
mas é
foda-se a hora do brasil
a merda da vida ou é minha ou é de ninguém
há tempo que trago esta ferida
ninguém me reconhece
e quem nota finge não ver
nada de mais
há coisa bem pior por aí
dizem
para ser franco
não creio
pode ser engano mas esse é um dos raríssimos enganos que não cometo
não quero mentir tanto
mas também não tenho compromisso algum com a verdade
porra caralho bosta
viver e morrer com medo do infinito
pensando que deus
nos tornará vítimas de sua bondade em qualquer esquina

24.5.09

935

à primeira vista até que parecemos bons
à segunda surgem algumas fendas
à terceira surgimos
meu deus
somos aquilo
mais adequado dizer isto
é o que somos
ponto
nada vai mudar
esconda-se
durma o mais que puder
mate-se
pensar em mulher nua ajuda
não só para compensar esta sensação de nudez como também para parecer que há algo de belo nu
e não apenas nós
pular do prédio mais alto
insisto
não se trata de capricho
é gesto altruísta
eu
o mundo
todos ficamos livres desta mala
assim espero
ou então uma bala
contanto que a porta se abra e eu saia

23.5.09

934

como pode a vida nunca deixar de ser isto
não faço idéia
mesmo que fizesse
não é de idéias que a vida vive
mas de alimento
de calor
de ar pra respirar
a alegria dá vontade de viver
não dá vida
sinto que devo
não sei o quê
não sei a quem
mas é uma sensação tão clara
que a cada esquina temo ser cobrado
desta dívida que vive comigo
esta dúvida
que talvez ocupe espaço no meu caixão
vivemos e morremos ao mesmo tempo
vivemos porque nascemos e ainda não morremos
morremos porque nascemos
mais fácil dizer por que se morre do que por que se vive
é a vida
ou será a morte
no enfadonho mundo das dualidades que às vezes é terrivelmente assustador
tudo sempre tem duas faces
uma não existe
a outra é apavorante

22.5.09

933

não sei se quem busca sempre encontra
sei porém que muita busca não chega a fim satisfatório num prazo razoável
sentimo-nos gastos
sem mais sabor algum
e possuídos pelo sentimento de que devemos encontrar o que nem sabemos se existe
e deixamos de enxergar o que está bem diante de nossos visionários olhos
tudo se torna difícil e pesado
pedimos para morrer
só o que nos vem é mais vida
mais um tanto de vida para arrastarmos pelas infelizes ruas
como castigo
por existir
por não ter tristeza que baste
nem cansaço
nem mais desejo pelo que se busca
tudo força de hábito
fraqueza do habituado

21.5.09

932

ter toda uma vida pela frente
depende de quanto dure a vida
às vezes ela pode ser curta
e parecer interminável
ter toda uma vida para trás
também não é nada de muito
se a vida não passou de algo para ser deixado no passado
ter vida ou morte nada significa
qualquer vivo tem todas as ferramentas para a felicidade e para a infelicidade
e se há vida depois da vida
o mesmo se diga dos mortos
vivemos a vida como quem vive numa ilha cercada por imenso oceano
sem saber o que há além
tentando estar preparados para o pior
temendo
não dormindo
antecipando o corpo na urna
tentando sabercomo é ser um cadáver cheio de carne fria

20.5.09

931

o caso é que tudo se resume à solidão
e à falta de caminho
e de porquê
e de para quê
não posso me matar
não posso viver
se aqui pagamos pecados
então não consigo imaginar o filho da puta que devo ter sido
eu só quero não ser filho de nada
num mundo despertar
descobrir que nada mudou
e que a velhice já veio
morrer é algo que não imagino
uma planície ou um precipício ou outra enfadonha parede branca
tantas mesmas coisas
cu de mundo
mundo de cu

19.5.09

930

ter fé cansa
ter fé é um autêntico saco
a fé é o sucedâneo do fato
um simulacro de paz
um querer sem resposta
a solidão otimista
não ótima
não quero mais ter fé em nada
não quero mais viver de fé
tudo que é não precisa da minha fé para ser
estou farto da arrogância da prepotência dos que dizem ter fé
como também das fés que ainda nutro
deus não cai do céu
nem a bondade é uma questão pacífica
sempre há um lugarzinho em nós
que crê no bem da maldade
que desmente toda a fé no bem que ostentamos
a hipocrisia talvez seja nossa única virtude verdadeira
todas as outras qualidades morais nascem da hipocrisia
desta hipocrisia que vem incrustada no adn
desta tendência pavorosamente patológica para o fingimento

18.5.09

929

o que deus não fez não está feito
trata-se de passado não havido
aquilo que se grava na retina sem se ter visto
desejo e frustração
são como
amor e ódio
as imbecis dualidades que nada explicam
ou mesmo que expliquem
nada resolvem
fica-se com o olho
distante no nada
com uma idéia
pura privação
sem palavra de alívio
é dormir e acordar não dormido
viver e morrer sem ter vivido
já nasci cansado
acho que por já saber do obstáculo intransponível
da parede
entre mim
e tudo
entre deus
e meu mundo
se ser inteligente é ser isto que sou
e se ser burro é pior que ser inteligente
minha nossa
não há palavrão forte bastante para qualificar a burrice

17.5.09

928

só sei que o dia vai passar
outras coisas porém
o tempo passa
outras coisas porém
mas tudo acaba
porque o tempo passa
o tempo pinga
segundo por segundo
quase nada de cada vez
quase coisa nenhuma
a cada segundo
coisas sem relevo
vão se amontoando
o que parecia impossível
o que nunca seria
aqui estamos
bem vindo ao fato
este corpo celeste
é o acumulado
de todas as suas
desprezíveis mazelas
tristezinhas picuinhas
coisas assim
a vagar no vácuo do espaço
este astro sem luz
talvez seja uma razão de viver
talvez um dia eu deva prestar contas
a algum idiota que se creia no direito de exigi-las de mim
quanto será que custa
deixar um monte de bagulhos soltos por aí
tudo tem um preço
por que hão de me deixar por menos
o mundo é não só louco mas também mesquinho

16.5.09

927

falar por uma fresta da porta
sem olhar sem nem ver o interlocutor
a voz que apenas fala
de trás da porta
apenas fala
sem resposta
sinto-me sem voz
sem presença
como se para lá da porta
apenas uma boca
e para cá
apenas uma orelha
minha enorme orelha
meu pequeno entendimento
isso rima com jumento
solução não há mesmo
mas também se houver
foda-se
nasci escravo morrerei escravo renascerei escravo
não quero mais bancar o palhaço
o que não significa que não bancarei o palhaço mais alguns milhões de vezes
entre aqui e a morte
entre aqui e sabe lá quando
a consciência máxima de um ignorante é a consciência de sua própria ignorância
a inutilidade mais doída
mais doida

15.5.09

926

tudo prossegue ótimo
a solidão tranqüila
tranqüila permanece
a água não fala
as paredes não falam
a terra não fala
nem o céu
vai ver sou surdo
vai ver sou uma besta ainda maior que a besta infinita que pensei ser
sei lá
talvez não haja inteligência
talvez não haja o que comunicar
sinto-me apenas esta ostra
perplexa e sofredora
cansado de tentar
certo de que nunca amarei a vida
pois é possível viver como vivo
ou até pior
porque pode se viver de namoro com a morte
cada um amputando o outro aos pouquinhos
ficamos aqui
monte de imbecis
achando que esta merda tem conserto
jamais crendo que a merda sejamos nós
tudo pode passar
exceto a besta humana
e sua esplêndida civilização

14.5.09

925

sentir-se só ou acompanhado
pouca diferença faz
se o melhor e o pior do mundo
são experiências absolutamente individuais
sempre estamos sós
sempre imersos neste vácuo
sem possível redenção
não há quem nos salve de nós
ou de deus
o dono da bola
se há dono desta bola
só sei que estou onde não queria estar
ou como não queria
ou as duas coisas
não sinto prazer em ajudar o próximo
como também não o sinto em deixar o próximo sofrer
só que fazer nada é mais agradável
parece que a idéia é de que sairei daqui melhor do que entrei
sinceramente duvido
embora minha opinião não conte
os animais daqui estão cada vez mais violentos cada vez mais estúpidos cada vez mais gananciosos
cada vez mais civilizados
digamos assim

13.5.09

924

a urgência de fazer o mal muitas vezes leva-nos a procedimentos que não dão o resultado previsto
procuramos infligir o mal e quando vemos a vítima visada nem se abalou
que ruim ser sem recursos
que ruim não poder fazer as coisas direito
a realidade é tão sem deus e diabo
e mais ainda sem mim
e no entanto sinto-me aqui
como se tudo me tivesse sido amputado
como se meu único resto fosse a capacidade de testemunhar
sinto-me uma coisa
algo como um poste
um poste com esta titica de consciência
vendo fatos
às vezes até sendo parte deles
sempre como poste

12.5.09

923

por que acreditar que algo que nunca funcionou pode vir a funcionar
maldita nunca suficientemente maldita esperança
não quero plantar semente alguma
não quero deixar nada para ninguém colher
só quero que esta vida acabe e acabe rápido indolor sem rodeios
por menos que me pareça verdade não farei a mínima falta ao mundo
nada além de mim deixará de existir quando eu deixar de existir
sinto que afundo
e sinto que já cheguei ao fundo
esta coisa tem que ter um fim
que pode ser muito assustador
mas neste momento
tudo que quero é o fim

11.5.09

922

não fosse a vida tão patética
ao menos tivesse eu compostura perante as calhices do destino
mas não
vivo me desmanchando por toda e qualquer bobagem
porque deus existe ou porque deus não existe
por uma unha encravada um pêlo inflamado uma fechada no trânsito
simplesmente não tenho governo sobre nada
e ainda sou capaz de esperança
ao menos esperança de que acabe esta permanente humilhação chamada vida

10.5.09

921

não quero encontrar mais nada
quero viver ou morrer com estas certezas
não preciso de novos erros
erro é tudo a mesma merda
tudo é igual ao quadrado na vida
deus escolhe e a gente se fode
dizem ser a regra
francamente
nem sei se esse tal de deus existe
mas é confortável poder jogar a culpa em outrem
e afinal de contas
se o tal do deus existe
de fato ele é um filho duma grandissíssima duma puta mesmo
podem dizer que não quero encarar a vida e assumir responsabilidades
pois não quero mesmo
só quero que tudo acabe
só quero encontrar o inimaginável fim
não ter mais medo nem esperança
ser uma peça solta no universo
ilógica
dane-se
as coisas mais caras que há são paz e silêncio
o resto é merda
não interessa

9.5.09

920

só quero que a vida só quero que a vida só quero que a vida sei lá o quê
só quero que acabe
também não sei o quê
só quero que me deixem sair sei lá de onde
só não quero sofrer sozinho
só não quero ser o único a não ter paz
a não encontrar alguma luz
ou coisa que o valha
não quero voltar a despertar neste pesadelo
não quero me ver obrigado a abrir mão de uma perna para não perder um braço
isso não é livre arbítrio
a infinita tortura chamada deus
tudo sempre termina do mesmo jeito
não importa qual o começo
por trás de tudo sempre está a maldita idéia de que aquilo que vejo não é o que o que vejo é
que vão à merda todos esses malditos significados ocultos todas essas sutis sutilezas
que saco
eu não quero aprender a ter calma
não quero mais aprender
não quero mais ser
viver quando não é horrível
é um saco

8.5.09

919

não sei para que sair pelo mundo
tudo é igual a tudo em tudo
a falta de dinheiro
a falta de escrúpulo
a falta de saída
o excesso de falatório de má-fé de tristeza de violência
não posso imaginar o que fizemos para merecer isto
mas se isto é fruto de alguma relação entre causa e efeito
se isto faz parte de algum sistema de premiação segundo méritos e deméritos
puta merda que mente sádica e degenerada que idealizou isto
caso seja simples obra da natureza
por assim dizer do acaso
que acaso mais filho da puta
este sofrimento vazio
não há choro que lave esta mácula
não há vingança que repare este ressentimento
perdi aceito que perdi
mas nunca aceitarei este mundo como algo bom e ponto final
só quero encontrar o fim

7.5.09

918

ter apenas pernas e braços
ainda que asas houvesse para mim
não há aonde ir
novamente a tal da fé
é sem saída
somos nós aqui
eu e a velha parede branca
quando criança fiz questão de gravar bem na memória tudo que me aconteceu
depois passei a desejar o mais completo esquecimento
desta infinita finitude
tudo fica igual a tudo
tudo tem fim
em tudo só se vê o fim
em tudo só se vê a ausência de nossa vontade
tudo vem e vai independentemente do que se queira
talvez um dia eu canse de viver buscando coisas inexistentes
talvez um dia me seja concedida a graça de inexistir
talvez um dia os universos fiquem cheios de mim
talvez haja um fim
um fim de verdade
um fim sem fim
um fim para sempre
se há inferno
há inferno e pronto

6.5.09

917

ainda que esta vida não seja grande coisa
é quase certo que ela seja o melhor a que poderei chegar antes da morte
então aproveite
difícil saber quanto durará o paraíso
a única certeza é que ele acaba
e depois
depois há um depois
eis o problema
isto não termina
não sei como sei isso
só sei que sei
é a bosta da fé
destruir-se é mau
viver neste mundo que invariavelmente nos destrói é bom
aprenda
isto nunca acaba
deus é infinito
não adianta pedir para parar
não adianta demonstrar que tudo passou das medidas
de onde vim ou como vim
só me importa sabê-lo na medida em que isso me ajude a sair deste inferno
deste mundo que só sabe ser sem graça profundamente sem graça ou cruel
profundamente
felicidade não é para sempre
talvez tristeza também não
o triste é saber que as duas juntas são eternas

5.5.09

916

eu esperava que um dia a máquina funcionasse
pensei que haveria tempo
pensei que me esperariam
que seria mais fácil
nunca acreditei que terminaria tão ignorante quanto comecei
além disso termino gasto frustrado infindo
e apesar de tudo
só querendo suplicando que tudo termine
com medo sem confiança totalmente dependente de tantas quinquilharias
a caminho de uma velhice cheia de médicos de drogas de medos
cada vez com mais ódio desta prisão
cada vez mais dependente dela
preso
antes de tudo à crença na liberdade
à mercê nem sei do quê
a coisa mais sublime que deus e o mundo talvez tenham me ensinado a sentir
é medo

4.5.09

915

curandeiros matam menos
a única superstição que funciona é a ciência
a ciência é o saber
o saber seguro
e só há ciência nas academias
nas incorruptíveis cátedras
cujo único interesse é o bem da humanidade
bem que elas conhecem como ninguém mais pode sequer supor
deus castiga médico cura advogado busca justiça
tudo maravilha
aqui no paraíso
flores no cu de todos
alegria alegria
morra a vida
viva o dia
já que nada nos mata
senão viver
melhor então pensar que
salvo a vida
tudo tem cura
mas quem não quer um pouco
dessa deliciosa saúde
hospitais médicos laboratórios farmácias
tudo tem cura
como não
aí estão as ruas
e o que nelas

3.5.09

914

o tempo não passou
fiquei mais velho
mais perto do fim
mais sem paladar e sem vontade
mas o tempo não passou
tudo mais permaneceu
o tempo não passou
tudo ficou
como quero que tudo acabe
como quero que haja apenas morte após a morte

2.5.09

913

este mundo é uma bosta
autêntico artigo de quinta
gentalha a dar com pau
gentalha pra todo lado
na televisão no ônibus no trabalho no restaurante no consultório na loja no espelho
insoluvelmente gentalha
nojentamente gentalha
e a violência
a vulgar expletiva prepotente tapada e tão essencial violência
cansei de ser
porra isto aqui é uma merda
ser é uma merda
estar é uma merda
a grande besta tem a boca mais ou menos aberta
depende de quanto ela queira devorar
mas ela sempre quer
ser é ser escravo coisa alimento brinquedinho na mão desse deus
a existência é um beco inteiramente sem saída
uma tortura
sutil ou ostensiva
inferno dez mil milhares de vezes inferno

1.5.09

912

a paz tem um preço
cada dia maior
trata-se de luxo
não viver com medo
nem pensando em como matar quem quer ou pode querer nos matar
o inferno é a porta sempre aberta
e chega a parecer mais tranqüilo que o céu
deus
com suas exigências e seus caprichos
supera qualquer belzebu
no inferno parecem estar os que não nutrem pretensões
os que não vivem megalomanias
a escolha parece resumir-se
à da prisão que mais ou menos me desagrade
a divina ou a diabólica
viver sem caminho
e ainda ter medo de morrer
puta merda
e o pior é que esta bosta ainda pode piorar
bem provável