27.2.07

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esta necessidade de dizer

para nada dizer

olhos que não param

a máquina vai independentemente de mim

contra ou a favor

obedece a comandos remotos

que lhe ditam todos os milímetros

vou de passageiro

arquiteto grandes mudanças

enquanto para todos os efeitos

imputam-me o comando deste desgoverno

e a dor de todos os meus amargores

e a passagem de tudo sem que se compreenda bosta nenhuma

simplesmente estômago e genitália

e o apego raivoso aos nobres ideais

e o desejo desesperado de sei lá o quê

talvez de que o universo deixasse de se mover tão tranqüilo

se ao menos eu não tivesse idéia de mim

já seria um progresso

a bem dizer não sei nem o que sou

ou se sou