23.2.07

114

não sei por que ser otimista

melhor ver tudo como uma desgraça permanente

já que temos que olhar para tudo como se olha para o paraíso ou para o inferno

para que se deixar envolver num bem-estar que acaba

para que acreditar no bem

estou cansado de quedas

e da dor das quedas

e da solidão que de repente se mostra à minha volta

tudo aquilo não existiu

tudo aquilo não era o céu

tudo aquilo não era nem eu

certamente não sei o que é felicidade

até hoje sempre que me cri feliz procedi com orgulho com desprezo com arrogância

não sei se procedi mal

sei que me dói não ter mais disposição para proceder assim

sou impérvio ao eterno ao transcendente ao que não seja da matéria de que se faz a tristeza que o homem plantou nesta terra

olha aí a bosta do lirismo e ainda dos bem pedantes

fui vendido a mim como autêntico

esta contrafação