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se eu pelo menos não tivesse o hábito de falar
e de ditar modelos
e de fazer projeções
no entanto
se sou fruto de todo este gasto de energia mental
meu talento não é a gerência de mim
não movo nuvens
mal movo meu corpo
se todo este tempo infinito que passo a antever-me foi de alguma valia
ele o foi para mostrar que nada vejo
que sou prisioneiro do vazio
absolutamente livre de qualquer impulso
entre ver e fazer há alguma coisa que não tenho
se tenho é como se não tivesse
só sei que o que realizo
é sempre uma aberração de meus desejos
estou sob um sol que queima
fugindo de morrer
chamo isso de viver
não quero torrar sob os raios desse astro de quinta grandeza
não quero morrer torrado
ou pior
viver torrado
viver não dá prazer
esta permanente maquinação de planos de fuga
a diária descoberta de que só perdi tempo
de que o máximo de que fui capaz foi de criar um personagem assim assim para enganar a gentalha
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