21.2.07

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não escolho quem vai e quem fica

apenas puseram-me esta corda na mão

vez por outra

não sei por quê

puxo-a

e ouço um grito vindo do outro lado da parede

não quero mal a ninguém

nem bem

apenas sinto-me obrigado

imperativos

uma ponta de corda foi deixada pendurada no mundo

decerto para que alguém a puxasse

talvez ao grito se repute um dúbio sinal de vida

afinal quem grita

no mais das vezes

grita porque vive

grita porque a vida não lhe vai muito bem

mas puseram-me aqui

neste cubículo estanque com esta corda

não me deram o mapa da cornucópia nem a caixa de pandora

apenas a bendita corda

e quando a puxo

ouço um sinal de vida

além daqui

uma vida sobre um patíbulo

quem sabe

não restam muitos escrúpulos a um desesperado

e talvez quem não participe da farsa

mas possa ser espectador de todas as suas fases

ria de se acabar desta condição patética

eu riria