19.4.08

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desejo ver tudo que não vejo neste momento

desejo ver tudo

desejo que a vida

e a morte

e o ar que respiro

esta imobilidade

e todo o festival de desgraças

e todos que com ele se deleitam

e toda esta triste e meio cômica

passagem de fatos

diante da janela

enquanto eu com ela

a letargia

lívida loucura

montes e montes e montes de imbecis

confundindo dúvidas com certezas

na realidade tudo é incerto

salvo a incerteza

na realidade tudo é belo

mas há bilhões de vozes falando ao mesmo tempo

quanto mais se falar mais próximo se estará da solução

é a certeza

ninguém se faz de rogado

somos o animal que fala

que sempre tem palavras

embora não pensamentos

embora não uma boa maneira de viver

ou de ver a vida