14.4.08

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dias há em que a boca acorda amarga

não de ressaca

mas de simplesmente se estar aqui

e de ter sido aplainado pelo rolo compressor do destino

justo quando se cria não ter nenhum relevo

engano

basta existir para tomar pancada

e o destino tem poderes tão tamanhos

e um espírito tão diminuto

que para ele nenhum gesto é bastante mesquinho

ele é capaz de

sendo dono de todas as fábricas de doces

ainda assim tirar o doce da boca da criança

além de fazer o pirralho vomitar a parte da guloseima que já ingerira

talvez eu esteja cansado de perder

não de apenas desejar

mas de desejar em vão

já ficou mais que demonstrado

não sei distinguir amor autêntico de amor falso

salvo quando vem o abandono

muito tarde para qualquer providência que me poupe da dor

tudo já se demonstrou

sou uma besta atarantada