17.4.08

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como viver com um ser estranho dentro de si

ora como todos vivem

nesta simulação de prazer e saber

de indiferença e desejo

como se não fosse você o expropriado

ou se nada disto houvesse

acorde

ou fique com essa cara de bunda ao vento

talvez seja tudo igual

só saberemos depois que a turba passar sobre nós

feito este mecanismo de amar e de odiar que nos governa

e o esquecimento nas profundezas de nós

algo passou ou não passou

esqueci

é tudo

sei que esqueci porque percebo uma falta

sinto a lacuna

impossível entretanto dizer se o ausente me pertence

de qualquer modo

ainda não me tornei deus

salvo se ser deus for isto aqui

que bobagem então se sou deus

bem só posso dizer que deus é um tremendo zé mané

não sei se sou vítima

mas sinto-me carrasco

sofrer e fazer sofrer