4.10.07

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dia de chuva

que saudade do ócio

de tempos que não vivi

em que me sentia a salvo de toda ameaça

em que eu nem sabia o que era ameaça

em que eu nem sabia ser paz o que eu tinha

em que eu nem sabia possível a perda da paz

saudade de ser o que nunca fui

supremo absoluto

um tirano feliz

um ser ou um não-ser sem necessidade de satisfações

e sem estas filosofices imbecis e vãs

talvez me digam bastar que eu seja eu

isso não se traduz em palavras

não existe um manual de instruções sobre o funcionamento do ser

o mundo gira

fica-se velho

e ou se é ou não se é feliz

ou se cala ou não se cala esta pulsão

a boca voraz

o paladar gasto

e o desejo

incessantemente

se deus queria criar um mundo sem paz

parabéns

se não

então fodeu-se