28.9.07

331

desejos e vícios

começo e fim

esta prisão e suas grades fedidas

esta prisão

este enforcamento mais lento do universo

tudo vai simplesmente me deixando

menos o desejo a ânsia a gana a voragem

tudo simplesmente escapa-me por entre os dedos

e mesmo depois que os dedos já nem podem segurar mais coisa nenhuma

ainda assim o desejo clama absolutamente em fúria dentro do que presumo ser eu

a sede desta sede

de onde tudo parte

abrindo-me vias na carne

vias dolorosas

vias de uma dor concreta e implausível

da qual parece impossível padecer

mas de que padecemos

pela qual somos consumidos sem economia

quando será que será o momento

nunca

eu vou morrer meu deus eu vou morrer

vou encontrar algo depois daqui

ou vou tão-só inexistir

a única paz duradoura