4.3.07

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toda manhã nego a noite

esqueço e contrario o que pensei ao deitar

deixo para trás o que queria levar adiante

e avanço no dia deixando para trás pequenos pedaços da convicção que me despertou

chego ao meio da tarde sem noção de mim

no anoitecer sinto que me traí

deito na cama e não durmo por não saber por que foram meus esforços

sou pego de surpresa pelos sonhos

de que saio pela manhã abismado

órfão

como nascido agora num mundo em que tudo é real na pior acepção da palavra

onde coisas não têm retorno

onde o que se quebra fica quebrado para sempre

e no transcurso do dia vou tentado engolir este inferno

aprendendo pela infinitésima vez que só se atravessa a rua com sinal verde

mas daí vem a noite

e o sono difícil

e o delicioso esquecimento