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toda manhã nego a noite
esqueço e contrario o que pensei ao deitar
deixo para trás o que queria levar adiante
e avanço no dia deixando para trás pequenos pedaços da convicção que me despertou
chego ao meio da tarde sem noção de mim
no anoitecer sinto que me traí
deito na cama e não durmo por não saber por que foram meus esforços
sou pego de surpresa pelos sonhos
de que saio pela manhã abismado
órfão
como nascido agora num mundo em que tudo é real na pior acepção da palavra
onde coisas não têm retorno
onde o que se quebra fica quebrado para sempre
e no transcurso do dia vou tentado engolir este inferno
aprendendo pela infinitésima vez que só se atravessa a rua com sinal verde
mas daí vem a noite
e o sono difícil
e o delicioso esquecimento
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