15.2.07

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já nem sei se gostaria de que alguém me desmentisse

de tanto acreditar nesta dor já me sinto dono dela

já a vejo como obra minha

a criatura que superou o criador

vivo dela e nela talvez esteja minha sensação mais próxima do conforto

meu porto seguro

minha escusa universal

sem ela derivo

ela é daqueles inimigos por quem se cria uma certa estima

sem a dor só há o novo

e o novo deste mundo não costuma ser muito animador

o novo deste mundo costuma ser somente

perdoem a infâmia da rima

uma nova dor

entre duas desgraças insolúveis

melhor nossa conhecida