22.1.07

82

não sei por que permaneço

nem por que me retiro

é esta coisa em mim

incognoscível

obedeço a ordens que nem percebo se me são dadas

só por medo da mão terrível

que pode estar em qualquer lugar

a onipresença da dúvida faz-me civilizado

faz-me crer na descrença

pois senão a mão imensa

cumprimento meu vizinho

beijo a mão do senhor magistrado

beijo a mão do santo padre e saio logo de perto para que sua santidade não me confunda com um de seus efebos

porque um dia o juízo vem

e espero estar pronto para admitir todas as culpas que queiram

assim ao menos as coisas andarão mais depressa

e no fim das contas tudo se resume a um único fato

devo sofrer por não ser eles

nasci para receber

eles para dar

tudo por direito sobrenatural

como quis a grande mão