21.8.07

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tempo é tudo

e passa

como se só eu o notasse

o tempo de que falamos nunca é o presente

não pára

assim como nós

ainda que inteiramente estáticos

somos passageiros involuntários da viagem do tempo

ainda que sejamos capazes de fechar os olhos por toda a eternidade

o tempo não nos esquece

nem nos lembra

se ainda é tempo

se ainda podemos cometer desperdícios

se ainda vamos fabricar o passado por muito tempo

sem querer admitir

que somos parte de uma seqüência cega e aparentemente infinda de nascimentos e mortes

parte de um sentimento cego de luta pela vida

luta virtualmente sem limites

que não mede os sacrifícios alheios

como se isso nos desse mais tempo

ou nos fizesse dele esquecer

como no caso dos corpos em putrefação

se não os vemos

eles não existem

ou existem menos