12.8.07

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como é sem poder a palavra

como nada muda quando se articula o verbo

a palavra simplesmente registra o fato quando o que eu queria era modificá-lo

mas a palavra não é capaz de nada

por mais que eu fale

nem por isso

nada muda

não sou feliz

não sou rico

não sou atraente

os caminhos são todos fechados

morrerei nesta vala comum da pequena bem pequena mesmo burguesia

ninguém

se ao menos deus me poupasse dos sentimentos

se ao menos eu não vivesse soterrado pelo mundo

aguardando o próximo obstáculo que venha reforçar em minha mente a certeza inabalável de que sou fraco

de que sou ninguém e de que ninguém liga a mínima para isso

as mútuas ofensas

as recíprocas flagelações

que diferença faz a existência ou a inexistência de qualquer coisa

meu desespero continua o mesmo