29.4.07

179

não sou nenhum fenômeno

nada em minha vida é notável

tudo que em mim soa extraordinário soa-o só a mim

não sou especialmente nada

nem chego perto

embora meu corpo seja grande

muitos há maiores do que eu

embora eu seja um fracassado

quantos fracassos muito mais retumbantes não vejo todos dias

não sou o que faz mais nem menos pontos na loteria

estou entre

como quase todos

evitando como posso um extremo e desejando com ardor esquizofrênico o outro

e vendo-me cada dia mais velho cada dia mais louco cada dia mais dentro de algo que nunca quis

como tantos

deixando-me envolver

aceitando desafios que em nada me interessam senão pela paga

a qual nunca será bastante pois não há o que me devolva o que nunca tive

nunca fui e nunca serei especialmente grande nem especialmente pequeno

só faço número

como tantos