22.4.07

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esta liberdade tem algo de contrafação

cada gesto aprisiona

ninguém vai matá-lo por aquilo que você faz ou sustenta

mas também ninguém tem a obrigação de amá-lo ou de garantir-lhe a vida por causa disso

pode-se obrigar alguém a fazer

não a sentir

não queremos simplesmente liberdade

mas a completa inexistência de limite

a faculdade de ser ao mesmo tempo tudo

inclusive nada

e que nada nos elimine

nada nos prenda nem nos obrigue

e que tudo que nos caia aos olhos se experimente

sem esta brincadeira louca da passagem do tempo que conduz à morte

da morte vindo sem aviso e sem escolha

sem esta condição de mero personagem da fantasia alheia

fantasia de um deus que nos leva de um lado para outro segundo os caprichos de sua imaginação nem sempre muito interessante

não quero mais ser brinquedo de outro

nunca quis servir à satisfação desse deus que de mim se apropriou

e que me obriga a venerá-lo