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estou cansado de detestar sempre as mesmas coisas
e no entanto elas permanecem detestáveis
e ao alcance de minha vista
ou de minha lembrança
não deixo de vê-las
meu cotidiano parece que se converteu em contorná-las
sem nunca esquecê-las
um comportamento recorrente que torna tudo igualmente insípido
começando pela necessidade de escolher a cada instante
entre o abismo e o paredão
chamam isso de livre arbítrio
esta brincadeira pesada
que um dia machuca
e mesmo que depois venha uma alma boa socorrê-lo não há curativo que feche a ferida
não há ferimento visível
você está perfeito
pronto para o amor
e no entanto
lá por dentro é só um monte de escombros
e o vício da solidão
e o olhar obsessivo
que sabe muito bem que nada vai ver
mas que ainda assim olha
fixo duro estático
para a infinita parede branca
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