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mais um dia para fingir
mais um dia na rua
repetindo para mim
não devo matar ninguém não devo matar ninguém não devo matar ninguém
e dizendo bom dia boa tarde como vai
dando vez no elevador e segurando a porta para as mulheres
mais um dia
mais um diazinho
um mísero dia a menos
no máximo viverei oitenta anos
vá saber até quando terei alguma lucidez
uma hora isto acaba
espero
uma hora alguma coisa tem que mudar
e que não seja esta convicção de que algo tem que mudar
quem sabe um dia eu acorde e encontre a porta da jaula aberta
e possa sair e olhar o mundo
e não me sinta mais forçado a amar nada
e não me sinta mais condenado a conviver com meus semelhantes
nem a buscar a porra da salvação
quem sabe um dia eu consiga ser estúpido como um animal e possa ver o mundo como uma experiência sempre nova
diversamente do que me impõe esta condição superior
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