14.3.07

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vivo com tremendo esforço

toda disposição tem que ser tirada lá do fundo de mim

pesada escoriada ameaçadora

tudo tão lento

este corpo pesa tanto

esta mente

viver é de uma morosidade vertiginosa

é mais ver coisas não acontecerem que acontecerem

e esperar a sensação final da lâmina no pescoço

macio como manteiga

amanhecer com o terror da expectativa

dormir

e ter que pensar no bem-estar

conceber novas formas de tornar o mundo infeliz

às vezes até praticar um homicídio para preservar o equilíbrio das coisas

e dormir e acordar e dormir e acordar e acordar e acordar e acordar

viver desperto sem consciência

sentindo este cansaço sem causa

chorar sem razão

odiar sem razão

amar sem porquê

perdoar a quem nada nos fez

destruir o prazer

com consciência do dever cumprido