18.3.07

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como doem os desejos

como cansam as pretensões

como pesa esta individualidade

não sei se existo ou se sou só um espelho

sei que sou mais um dos incontáveis nesta fila infinita

esperando sei lá o quê

esperando que a espera acabe

esperando que o castigo de existir não dure para sempre

e no intermédio buscando felicidades finitas

migalhas que sustentem a ilusão de existir um deus que só jogue a meu favor

e que me afastem desta diminuta busca por qualquer migalha de tempo

no mais a vida é como ser posto diante de uma parede branca

e ter que permanecer parado com os olhos fixos nela

toda vez que se tenta mudar de posição ou olhar para outro lado

leva-se uma sonora chibatada

tem-se um membro mutilado

perde-se algo de que se gosta

ou alguém

tudo deve se resumir à parede branca

à parede branca

à parede branca

à parede branca

e a você

sempre diante dela

sempre diante dela

sempre diante dela

sempre diante dela