29.12.06

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a sensação é de que só ocupo espaço neste planeta

de que nada faço que qualquer outra coisa não poderia fazer

e quando não estou na dor estou a um marasmo da dor

quando há prazer é um prazer rapidinho

só pra lembrar quão ruim é viver sem prazer

um prazer que nem dá tempo para um fôlego antes de afundar novamente

e quando afundo não há memória que me faça dizer que todo este marasmo e toda esta dor valem a pena

que nada

não vale a pena viver quando a existência do vivente incomoda até mesmo o próprio vivente

não vale a pena gastar espaço ar água e comida com alguém assim

que com tanto no mundo nunca fez nada de valor

um dispêndio imoral

um desvio de finalidade

que não merece nem a cova que seus ossos ocuparão

alguém que nunca fez nada por ninguém

e que não tem por que crer que mudará