21.12.06

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esperar o que sabemos que chegará já não é muito bom

ainda mais se não sabemos com certeza quando

já a espera do que nem sabemos

eis a vida dos desesperados

é o caminho que dá voltas sobre si próprio e termina num infinito sumidouro

é viver no fim do mundo com o mundo a olhá-lo ora com tristeza ora com desgosto ora com compaixão e quase sempre com completa indiferença

e a dizer-lhe sem porém estender-lhe a mão calma não é o fim do mundo

não de fato não é o fim do mundo

é o fim de mim

ou a falta de começo

o que seja

qual a diferença afinal

se fazemos inesperada a morte tão certa

se ficamos atarantados perguntando para onde vou agora diante da fera em pleno bote

se brincamos de cegueira e depois descobrimos que realmente não podemos ver

a desorientação torna-se o norte da vida

e a sensação de que há algo de errado

mesmo que tudo esteja irremediavelmente certo