20.12.06

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se o tempo já tivesse passado

e ainda assim estivesse por ser vivido

então se poderia saber de antemão se valeria ou não permanecer aqui

pois confesso

estou com o saco meio cheio das surpresas da vida

que só têm feito me mostrar o quão surpreendente é viver sem surpresas

ou com surpresas do tipo a morte bate na porta

que só confirmam que o único lugar seguro neste mundo é um caixão sob a terra

inês é morta e nem por isso a felicidade

a felicidade é cara e efêmera

mesmo quando não custa nada

mesmo quando as tristezas nem são tão tristes

sinto-me devastado

sinto-me castrado e condenado a viver longe do que amo

longe da própria capacidade de amar

e dentro de mim algo ficou seco por tanto tempo

que agora mesmo que seja regado

o máximo que vou obter será um cadáver úmido

de olhar pétreo