22.12.06

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como é bonito este cruel sol do cerrado

quão vasto vê-lo nascer e morrer

torturando minhas retinas

que extremo este lugar irreal

esta ilha da fantasia

onde tão fácil se esquece a miséria a um olhar de distância

isto aqui tem um tanto de delírio

não o cerrado

mas nós que erguemos monumentos a memórias inexistentes

nós

para quem sobrevivência e preservação virou sinônimo de perversidade

que só vivemos se matamos

simplesmente porque a vida se encaminhou para isto

e nem este sol nos aplaca

nem a felicidade

pobre felicidade

nem a felicidade suplanta este desejo férvido de matar

o sol se põe no cerrado

nem vejo

hoje como há muito só chove

chove de fazer goteiras no crânio

e desejos cruéis

que nem o maior dos sóis