30.12.08

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todo dia é a mesma espera

a vida toda

sem saber o quê

nem como

esperar esperar e supor

qual o aspecto da coisa seu cheiro seu comportamento

como ela chegará

se poderá ser reconhecida

quem sabe o que já não veio

atropelou-me passou com todas as rodas por cima de mim

e eu nem vi o que houve comigo

a calma aqui é quebradiça

como um biscoito velho e seco

como a casca de um ovo de granja

tudo se desmancha em pó e se dispersa no vento

nada permanece

nesta duradoura efemeridade

o esquecimento e a lembrança

sempre duram tão pouco

mas algo foge à corrente e fica

uma suave lentidão

uma demora um pouco imperceptível

até que o tempo se esgota e olhamos o relógio e descobrimos

não vivemos