27.12.08

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sinto-me um trapo

menos trapo que ontem

mais que em outros dias

sinto-me comum

opaco

sem valor algum

alguém que já passou

nos corredores no trânsito na sala da casa

sou fácil de esquecer

fácil de não ser visto

como uma árvore

entre um milhão de árvores

pensando que é alguém

tudo que quero é meu sono

no fim do dia

no meio da noite

mergulhar num mundo em que esqueço desta necessidade de ser notado

às vezes acordo com a sensação de que tomei uma surra

podem ser tantas coisas

diabete fígado cansaço de esforço no dia anterior

vá saber

o que vem ao caso é que acordo me sentindo como se tivessem me surrado

quase espero encontrar negros hematomas neste corpo ao olhar-me no espelho

não passo de nada