22.1.08

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ouço o silêncio da manhã

quebrado vez em quando por um ganso a grasnar

e pelas vozes de tantos que já morreram

não mais audíveis

mas que não deixam de existir

não deixa de ser uma tática

buscar ser amigo da morte

se teremos de viver tanto tempo com ela

se a morte não passa de uma outra forma de vida mais viva ou mais morta

eu só queria saber esperá-la com menos medo com menos raiva

não tem jeito

o medo é minha razão de viver

com medo

por medo

sempre certo de que deus

pendurado em tantas paredes mundo afora

tudo ouve tudo vê tudo sabe e a todos tortura

diverte-se com nossas dores e nossas culpas

como um viciado a lambuzar-se nas próprias fezes

dependente em grau extremo

agarro-me a esta droga de vida

e não a largo até que a morte

quem sabe