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ouço o silêncio da manhã
quebrado vez em quando por um ganso a grasnar
e pelas vozes de tantos que já morreram
não mais audíveis
mas que não deixam de existir
não deixa de ser uma tática
buscar ser amigo da morte
se teremos de viver tanto tempo com ela
se a morte não passa de uma outra forma de vida mais viva ou mais morta
eu só queria saber esperá-la com menos medo com menos raiva
não tem jeito
o medo é minha razão de viver
com medo
por medo
sempre certo de que deus
pendurado em tantas paredes mundo afora
tudo ouve tudo vê tudo sabe e a todos tortura
diverte-se com nossas dores e nossas culpas
como um viciado a lambuzar-se nas próprias fezes
dependente em grau extremo
agarro-me a esta droga de vida
e não a largo até que a morte
quem sabe
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