6.5.07

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além de ter que deixar quarenta horas da minha semana com o feitor

tenho ainda que moderar-me na comida no fumo na bebida

além de ter que ter um emprego ainda tenho que amar a vida que tenho tendo um emprego

um emprego bem caquinha diga-se

amá-la a ponto de renunciar aos prazeres que só a preguiça e os vícios podem me dar

minha nossa que erro vir a este mundo integrando a classe trabalhadora

eis por que não quero ter um filho

ao menos a razão moral

não quero trazer ao mundo mais um decepcionado que se descubra zé mané sem chão onde cair morto

sem tostão e tendo que pensar na velhice na saúde em declínio na vida insossa que é tudo que temos no temor tamanho de perdê-la

no desejo imenso que tem que ser pisoteado esmagado comprimido dobrado e enrolado

e guardado dentro do peito para virar uma fera viva enjaulada a consumir-nos

até que o esqueçamos sem que ele nos esqueça

até que este ódio apócrifo seja tudo que dele reste em nossa consciência

até que não haja mais satisfação possível