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além de ter que deixar quarenta horas da minha semana com o feitor
tenho ainda que moderar-me na comida no fumo na bebida
além de ter que ter um emprego ainda tenho que amar a vida que tenho tendo um emprego
um emprego bem caquinha diga-se
amá-la a ponto de renunciar aos prazeres que só a preguiça e os vícios podem me dar
minha nossa que erro vir a este mundo integrando a classe trabalhadora
eis por que não quero ter um filho
ao menos a razão moral
não quero trazer ao mundo mais um decepcionado que se descubra zé mané sem chão onde cair morto
sem tostão e tendo que pensar na velhice na saúde em declínio na vida insossa que é tudo que temos no temor tamanho de perdê-la
no desejo imenso que tem que ser pisoteado esmagado comprimido dobrado e enrolado
e guardado dentro do peito para virar uma fera viva enjaulada a consumir-nos
até que o esqueçamos sem que ele nos esqueça
até que este ódio apócrifo seja tudo que dele reste em nossa consciência
até que não haja mais satisfação possível
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