5.1.09

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vivo há quarenta e seis anos e uns dias

e ainda não sei respirar

sinto-me cada vez mais frágil

cada vez mais sem amparo

nos amplos cômodos desta solidão

nunca falta espaço

não vem ao caso quão grande eu seja

tudo me reduz

a mim

quatro paredes teto piso

não encontrei deus

nem o perdi

todos ignoram meus tormentos

mesmo eu

e não sei por que não durmo

nem por que não desperto

tenho só esta tênue noção de individualidade neste oceano de incerteza