20.8.08

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ganha-se a vida perdendo-a

em trabalhos idiotas tão sem sabor

fazer milhões de coisas

só para não depender de outros que façam por nós

milhões de coisas sem relevância

só para morrer afogado em tolas honrarias

milhões de coisas sem a menor importância

milhões de coisas ao fim das quais nada parece ter sido feito

não vou mais dormir

a vida é permanente sonolência

este sempre postergar

pois devemos ganhar a vida para viver

a vida e a gélida coexistência em sociedade

tantos de nós

só perdendo pedaços de si por aí

pedaços que depois nem se sabe perdidos

pedaços que nem se soube possuir

o que deus não nos tira rindo que não perdemos chorando

pedaços meus encontram-me na rua e perguntam-me se me lembro

nem a pau

nunca fui eu todo na vida