27.2.08

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o que falar quando se está assim

quando a melhor coisa que poderia me acontecer era nada ter que falar

nada

ter o privilégio do silêncio interior

completo

o governo da máquina que sou

não viver passageiro de mim

na cabine de comando de uma nau sem rumo

realmente não sei o que fazer comigo

parece que está escrito em algum lugar que a morte

eis um compromisso infalível

a vida sempre nos conduz a isso

no fim das contas é até meio chato

todo mundo nasce cresce envelhece e morre

alguns podem até não envelhecer ou mesmo não crescer nem envelhecer

mas todos nascerão e morrerão

e quando se descobre que não se está mais crescendo a não ser para os lados na altura do ventre

bem vindo à velhice

mais uma etapa obrigatória na viagem da nau sem rumo