18.2.08

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não sei por que fui bom

nas poucas vezes em que o fui

não passou de bondade putativa

algo feito por fazer

ou tendo em vista algum ganho

se não foi por engano nem por puro cálculo

foi por mero condicionamento

pois aqui dentro não há disso

acho que só sei sentir desprezo

no que dependa de minha natureza

em mim não há bondade alguma

há só meu gosto por poder e destruição

como num vilão de desenho animado

mas não me basta apertar o controle remoto para mudar a mim ou ao mundo

tenho de viver comigo

na riqueza e na pobreza

na doença e na saúde

na vida e na morte

aqui estou

tão completo quanto posso ser

cansado de mim e de minha cara

triste porque a tristeza me é fácil

é só o que tenho

ou ao menos parece ser

do contrário deixo de me perceber

e dentro de mim não há bondade