2.2.08

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por mais podre que eu me saiba

às vezes me surpreendo comigo

é que me esqueço de que sou humano

o que aliás é uma tendência bem própria do tal do animal

olhar para seu semelhante como se fosse para algo diverso

por menos que queira admitir

como ele é podre

e fedido

e ainda fico eu aqui

crente de que posso alcançar o sublime

esquecido de que para um humano

sublime já seria tirar um pé que fosse

da lama

deste mundinho da certeza da supremacia

o máximo que sei é fazer-me crer que sou diferente do meu semelhante

semelhante ao deus que inventamos para tirar de vez o sabor da vida

morrer

diante da vida neste mundo

acaba sendo uma prerrogativa

morrer e acabar e nada nada mais ser

seria uma bênção

saber que é isto e nada mais

um passaporte para a bendita inconseqüência