25.6.07

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quando certas coisas pegajosamente aderem a nossa vida

confundimos tormento com felicidade

tratamos com desprezo a paz

deixamos de lado tudo de bom por pensarmos ver

e na verdade talvez até vejamos

o que não sabemos é escolher

temos diante dos olhos tão-só nossas mãos sequiosas

e por dentro algo como um encantamento

que nos conduz feito autômatos

vivemos acorrentados

e cremos saber o que fazemos

na maior parte das vezes é difícil saber que se é cego

porque o cego não vê

e assim não sabe a diferença entre ver e não ver

se todos em seu redor também são cegos

não sabe a diferença entre ouvir e não ouvir

se todos em seu redor também são surdos

não sabe o que é sentir

se todos não sentem

então institui-se a normalidade

e o exequatur divino

e todos se conformam em ser assim

de que outro modo haveria de ser ora