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as coisas enquanto apenas desejadas
fingem-se claras para se manterem obscuras
as coisas nunca se revelam totalmente
ou nunca revelam bastante de si enquanto não nos tenham embaraçado completamente
enquanto não nos fazem escravos
pois depois em nada relevará conhecer nosso verdadeiro objeto de desejo
já somos seus
já não temos escolha nem vontade
e no fundo de tudo
depois de tanto
vemo-nos nulos alheios parte de individualidades outras
tudo de nosso que sobra no fim das contas
é o desejo
esta boca escancarada ganindo noite adentro
estes dias de insônia dispersando pedaços de vida
e uma goteira
entre tudo que parece tão permanente passeiam ratos
selecionando restos
bem ali
junto da gente
que se curva
perante colossos econômicos
1 Comments:
otima leitura!
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