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não sei o que pensa quem tem poder
talvez nunca saiba
e isso me doerá
pois não me importa assumir novos ônus
aceito riscos intoleráveis
a título de farejar a felicidade
aceito viver longe da paz
apenas em troca da admiração geral
aceito qualquer dor
que me deixe longe da dor essencial
da qual nunca estarei distante
sobre a qual nem quero mais pensar
que o fato de não esclarecê-la
converteu-se em tédio
numa cansativa martelação cotidiana
que é nada vezes nada
a ocupar-me espaço
e estes parcos neurônios que ainda são meus
que ainda não se tornaram feudo do estado nem das empresas
não tenho muito espaço para pensar
vá lá que também não tenho muitos pensamentos
mas não gosto de sentir-me loteado
não gosto de ser parte deste processo de reciclagem que me faz de uso comum
eu devia pedir só um pouco de paz
desde que não fosse a paz sem graça das igrejas
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