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céu e inferno brincam de esconde-esconde dentro de mim
de hábito esforço-me para não ver
do esforço resulta o inverso
ou resulta nada
uma coisa imensa sem tempo e sem tamanho certo que denomino ignorância
um lugar em que nem sofro nem tenho prazer
só fico em busca de um motivo
afinal não devo ser a partícula mais sem sentido do universo
sei lá porra
como saber se sei
se nem sei se não sei
daqui a pouco morro
serei chorado por alguns
uns até sinceros
que não merecem nem deveriam sofrer por minha morte
mas torna-se cada vez mais doído buscar esperança
esta vida vai se enchendo de estranhamento
e cada vez menos me reconheço no espelho
a única coisa que sei que aprendi vivendo quarenta anos é que se podem viver quarenta anos
diante de um livro aberto
sem o menor desejo de lê-lo
ou de escrevê-lo
finjo que estou morrendo
acho que já morri
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