15.5.07

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céu e inferno brincam de esconde-esconde dentro de mim

de hábito esforço-me para não ver

do esforço resulta o inverso

ou resulta nada

uma coisa imensa sem tempo e sem tamanho certo que denomino ignorância

um lugar em que nem sofro nem tenho prazer

só fico em busca de um motivo

afinal não devo ser a partícula mais sem sentido do universo

sei lá porra

como saber se sei

se nem sei se não sei

daqui a pouco morro

serei chorado por alguns

uns até sinceros

que não merecem nem deveriam sofrer por minha morte

mas torna-se cada vez mais doído buscar esperança

esta vida vai se enchendo de estranhamento

e cada vez menos me reconheço no espelho

a única coisa que sei que aprendi vivendo quarenta anos é que se podem viver quarenta anos

diante de um livro aberto

sem o menor desejo de lê-lo

ou de escrevê-lo

finjo que estou morrendo

acho que já morri