14.5.07

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todo o meu medo é de ver o barco partir

o último

e descobrir que fui o único que ficou

e ver o mundo ganhar distância

e saber que na verdade quem partiu fui eu

caí do navio

andei na prancha

como todos um dia

santos ou magnatas

da primeira classe ou dos porões negreiros

todos um dia servirão de repasto a vermes e bactérias

lá está o fato

sentado na beira da estrada

calmamente pintando numa placa a palavra consumado

e eu sem freio sem acelerador sem volante nem alavanca de marcha

puramente uma consciência passiva

indo de encontro