30.1.07

90

sinto que as paredes querem fazer de mim a carne de um sanduíche

carne gorda

e sinto que não há milagres

que não há almoço de graça

e que o preço é caro

para me içarem deste buraco

sinto que não há dia certo para morrer

apenas morte certa

e vidas erradas

não posso

me desculpem

não posso ser como quero

só como não queremos

espectador de meus erros

domador de mim

há muito devorado pela fera

que lentamente

em franca afronta

saboreia-me a carcaça

perdi

tenha espírito esportivo

perdi e odeio perder

perdi e nem sei o que perdi

perdi e desaprendi de ganhar

perdi o sono

e a fibra

perdi a inteligência

perdi a juventude

perderei a velhice

se quisesse me ocupar por séculos faria a lista de uma mínima fração do que não fiz

perdi até a oportunidade

de ver o tempo passar