16.10.08

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esta coisa de todos os dias

todo dia mesmo

coisa sem fim

tudo que dura mais que eu é sem fim

qualquer fim mais distante que o meu

qualquer início posterior

saber que vou morrer quase nem me desespera

saber já é um desespero

o conhecimento é inútil

pense bem

inclusive conhecer que o conhecimento é inútil

a vida também o é

infinitos mundos de passagem

tudo só deixando para trás nada de si

é do que eu talvez seja feito

são as peças da vida

espalhadas no tabuleiro inconsistente que sou

a vida é um embaraço interminável

nem triste nem alegre

esta coisa quase sempre ou sempre invariavelmente sempre constantemente não tem sabor nem cor nem amor nem dor nem estupor nem amargor

no máximo há o medo o medo de que este nada se torne um nada ainda mais miserável ainda mais longe da vida