6.10.08

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e se minhas últimas palavras para você forem aquelas de desdém que proferi há pouco

o mundo é amargo

o mundo é cinzento

o mundo é uma vagarosa e infinita morte

onde nunca se sabe felicidade

onde sempre há uma vala

um irresistível convite à queda

sob a égide do altíssimo

todos se degradam se humilham se mutilam

este é um daqueles quadros fantásticos em que se é meio humano meio bicho

em que se vêem gaiolas com gente penduradas nos postes

corpos esquartejados animais inconcebíveis

tudo aqui

tudo bem diante destes meus olhos

e dominando tudo os homens

inteiramente homens

indício algum de aberração

apenas homens torturando humilhando matando explorando