2.10.08

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muito chato esta história de viver uma vida só

há coisas na vida

que se compreendem logo de cara

outras há que nunca

então não vale dizer que uma vida basta para confundir-nos

uma vida basta para confundir-nos

é certo

mas uma vida basta antes de tudo para encher-nos de tédio

uma vida da qual aceitamos ser prisioneiros

eis o mais interessante

somos co-partícipes deste longo sufocamento

a mão aperta-nos o pescoço

e dizemos-lhe sirva-se

ela não quer simplesmente nosso fim

mas sim que definhemos

que nem percebamos o que nos mata

que sintamos falta de sua opressão

como sentimos falta do ar

aprendemos que males vêm para bem

e de tanto pensar assim

passamos a crer que males

são bens

e que o máximo que podemos

é isto