19.10.07

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tenho que fingir que não sou simplório

que não vivo inundado de pavores risíveis

que cada dia vem e vai sem me abalar

que vivo cego pela iminência da morte

cada momento que vivo lembra-me a vida que levo

a morte que terei

e o deus pendurado na parede na casa de alguém da minha infância

quanto anseio de esquecer

ainda me sinto como sempre

sem vocação para a felicidade

e a única mudança que admito em minha vida

é a da vida para a morte

o resto é resto

deus e meus semelhantes

todos a encher-nos o saco reciprocamente

se o inferno é pior

então o inferno é obra de gênio