17.10.07

350

vivo com medo

nem por isso deixo de viver

vivo mal

viver custa muito caro

vivo na beira

mero espectador do cortejo

e sei quanto isso me dói

sou escravo da megalomania

se tenho alguma fé

é na enormidade

tudo deve ser enormemente aparente

é tudo que sei

precisamos ocultar esta pequenez intrínseca

quando as grandes tragédias vêm

ou enlouquecemos ou vivemos

nuances e meios-termos não passam de frescura

meu tempo vale mais que filosofações

mesmo que seja para coçar o saco diante do televisor

antes de tudo devíamos todos calar a boca

e rogar a deus que nos privasse da razão

façamos uma grande inovação

sejamos canalhas sinceros

ao menos não sejamos desonestos com nossa desonestidade