24.7.07

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viver o dia inventando desculpas e dizendo a mim mesmo que só não fui mais porque não quis

nada disso silencia a vaidade ferida

que aqui dentro urra voraz

sequiosa de homenagens

de poder

de submissão

um automóvel de luxo de cor preta com uma chapa preta e um motorista de roupa preta conduzindo um camarada de consciência negra

digam o que quiserem

digam que não vale nem um pouco a pena

isso é poder

bastante para embriagar

para fazer muito nego aceitar engolir muito sapo pela vida afora

somente pelas deferências e pelos elevadores exclusivos

somente para ser outro conviva

no banquete em que se deglutem como finas iguarias os anseios da gentalha

e se ri

a dentes escancarados

como sói o poder