21.9.08

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já não posso nem lembrar das coisas

fico parado no meio da mesa no meio da sala no meio do mundo com tudo tão vazio em mim

um fútil saco cheio de rarefação

eis como me sinto

como sinto que nunca deixarei de me sentir

não sei quem me esqueceu aqui

nem sei o que esqueço

só sei que é assim

já de tempo

desde antes de mim

ficar aqui

sentindo este monte de horas

sentindo que tudo ao que parece passa

de bom e de mau

na cama sem dormir ouvindo o relógio andar

os animais que no escuro se movem

tentando não ouvir pensamentos

tentando ser indiferente a si

sabendo que nada existe e que todavia se sofre por causa disso e de todo o resto

mesmo do que não se lembra ou não se conhece