17.9.08

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este sabor não me sai da boca

este sabor de nada

que muito embora

sabe amargo

bilioso mesmo

vindo lá do porão

duma só salivada

sabor nenhum

doce tristeza

dessas contemplativas

de quem pode se dar ao luxo de ser triste só por causas abstratas

a tristeza de não ser amado pelo mundo inteiro

a tristeza de ser repositório de nenhum poder

tristezas de quem tem barriga cheia teto sem goteira cama e cobertor

além

claro

do massacrante pavor de perder tudo

de se perder na lama antes de volver ao pó

viver é medo atrás de medo

este animal pegajoso e voraz pegado à nuca

cevando