26.6.08

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em silêncio a mulher de pedra atravessa a casa

com seu pesado fardo

de sabores amargos

tudo na casa veste luto

toda esta triste sucessão de cômodos

toda esta mórbida sustentação de paredes

há alguma monstruosidade nisto

monstruosidade sutil

imperceptível

não é deus

e mesmo que o seja

quanto no mundo não é o que é jamais sendo o que daquilo esperamos

só sei que se arrastam

a mulher de pedra e seu fardo

sua longa mágoa

sua velhice

seu irrefreável desejo de encher de sombra o mundo

tudo acabou

a vida há muito deixou de ser vida

não preciso de mais tristeza para ser triste

tudo está horrível

e pode ficar muito pior

basta nascer novos dias